Eu até poderia comprar uma poltrona bem confortável para você ler os meus livros e ouvir os meus CDs, quando você não estivesse com sono. Ou você poderia fazer cafuné em mim enquanto ouvisse a música. Ou só fazer cafuné. Ou só ouvir a música.
Quem sabe nós não devanearíamos em filosofias descartáveis sobre a humanidade em noites insones com a janela do meu quarto aberta? E o céu lá fora, cheio de estrelas. E o ar da madrugada e da cumplicidade a nos embriagar em meio aos devaneios.
A gente poderia se amar no olhar e se amar amando. Fazer planos para o futuro sem esquecer o agora. A gente poderia tanta coisa dentro do meu quarto. Ah, mas poderia.
Se eu utilizasse meu quarto. Mas eu prefiro a vida lá fora. A multidão que passa e que não me vê, mas que eu vejo. E sinto. Essa quantidade de flechas apontadas para todos os lados e que eu tanto me divirto em me desviar delas. Até que elas me acertam. Eu poderia tantas coisas. Mas fico com outras. Eu não preferiria você no meu quarto. Preferiria que você fosse uma flecha, para me embriagar em ti.
Eu até poderia estar com você agora, no meu quarto. Sem dúvidas seria maravilhoso.
Mas prefiro a liberdade - é nela onde a flecha finalmente acerta o seu alvo.