terça-feira, 15 de março de 2011

Eu poderia dividir com você a minha coleção de CD's. Deixar você entrar no meu quarto e levar embora qualquer livro que eu cultivo na minha estante, sem data de entrega. Veja bem, se existem duas coisas que eu sou ciumenta, são com os meus CDs e meus livros. No futuro, terei uma biblioteca de cada um deles, mas você não precisaria ir até lá, teria exclusividade. Pelo tempo que quisesse, eu diria.
Eu até poderia comprar uma poltrona bem confortável para você ler os meus livros e ouvir os meus CDs, quando você não estivesse com sono. Ou você poderia fazer cafuné em mim enquanto ouvisse a música. Ou só fazer cafuné. Ou só ouvir a música.
Quem sabe nós não devanearíamos em filosofias descartáveis sobre a humanidade em noites insones com a janela do meu quarto aberta? E o céu lá fora, cheio de estrelas. E o ar da madrugada e da cumplicidade a nos embriagar em meio aos devaneios.
A gente poderia se amar no olhar e se amar amando. Fazer planos para o futuro sem esquecer o agora. A gente poderia tanta coisa dentro do meu quarto. Ah, mas poderia.

Se eu utilizasse meu quarto. Mas eu prefiro a vida lá fora. A multidão que passa e que não me vê, mas que eu vejo. E sinto. Essa quantidade de flechas apontadas para todos os lados e que eu tanto me divirto em me desviar delas. Até que elas me acertam. Eu poderia tantas coisas. Mas fico com outras. Eu não preferiria você no meu quarto. Preferiria que você fosse uma flecha, para me embriagar em ti.

Eu até poderia estar com você agora, no meu quarto. Sem dúvidas seria maravilhoso.
Mas prefiro a liberdade - é nela onde a flecha finalmente acerta o seu alvo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Como posso conversar se eu não sei como dizer?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Todo dia, a toda hora, tem gente por aí mostrando aos grandes impérios do mundo que sonhar nunca é demais.
E vamos parar de deixar as palavras presas na garganta.
E as ações presas nas páginas dos livros.
Que cortem nossas gargantas e queimem nossos livros.
"Ideais são a prova de balas".

Se não posso dizer a você então digo a qualquer um, se não posso contar com você então conto com qualquer coisa. Mas tanta volta o mundo dá, e o tempo, o tempo é o grande Senhor da minha dor.

sábado, 27 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Taciturno


Num meio dia de fim de primavera, tive um sonho, como uma fotografia.
Queria imprimir nessas páginas o que vai no meu peito para que eu não precisasse buscar novamente tudo o que sinto dentro de mim. Porque vivo um constante buscar e um buscar inconstante que às vezes faz sumir a minha própria voz.
Tem momentos que busco o que sou nas fotografias, pois por algum desses caminhos, que não sei se os da terra ou os da mente, perdi o elo fundamental que me fazia saber olhar para tudo o que existe.
Minto para mim ao abdicar da antiga verdade de que tudo é possível.
Talvez dediquei o meu amor a quem não devesse dedicar. Mas é embaçado e não posso ver.
Não.
Vejo, mas não acredito.
O eterno Deus que habita em mim se esconde por trás das voltas da minha cabeça.
Me sinto grave, como convém a um poeta. É porque é um poeta que sopra minha vela agora.
É que na busca do eu, sempre fui alguém que não há em mim.
Queria conversar sobre isso mas para ele não existe nada além das misérias humanas, e eu não saberia.
Tenho chorado constantemente.
Não tenho feito amigos.
Mas agora posso amar alguém que está aqui.
Me sinto mais livre do que nunca, e as paredes continuam se fechando e nesse momento eu fecho os olhos.
O sonho me deu muitas coisas e eu não sou vítima da vida ou do acaso, de nada. As circunstâncias são pequenas demais e fortes demais.
Tempo, tempo, tempo, tempo...
Me perdi.

Vivi, amei e até cri.


por Fernando Pessoa
por um eu-lírico desconhecido
e por
Bárbara Eliodora

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A vitória contra o desamor

A possível vitória da Dilma Roussef em 31 de outubro é uma vitória, sobretudo, contra o desamor.

Deixando de lado os gráficos, as comparações entre Lula e FHC, os dados sobre os estragos de Serra em São Paulo e de seus amigos de partido em outros estados - como a do Aécio em Minas Gerais - , a possível vitória da Dilma, representa, mais que tudo, a capacidade que ainda temos de amar.

Essa opção pelo amar e esta irreverência contra o desamor se manifesta quando temos uma campanha feita por nós. Desde sua posse em 2002, quando milhares de brasileiros foram a Brasília comemorar a eleição de um operário de esquerda no poder, o Governo Lula é de cada pessoa que o construiu no dia-a-dia, nos Movimentos Sociais, nos sindicatos, nas associações e nas universidades.Que construíram este permanente estado de espírito de permitir o brasileiro de amar a cada dia mais. A amar os pobres, as mulheres, os negros e os homossexuais. Quão simbólico não é termos um adesivo lilás na campanha da Dilma? E o adesivo de campanha pela promoção da igualdade racial? Quão simbólico não foi a Nilcéia, a Matilde Ribeiro e o Edson Santos nesses últimos anos lutando por um Brasil feminista e anti-racista? Todos estes resultados são fruto da luta de milhares brasileiros por uma sociedade justa. Nós construímos isto em todos os espaços, não porque o governo nos permitiu este direito, mas porque nós nos permitimos.

É uma vitória do amar, principalmente, da classe trabalhadora. De permitir que os trabalhadores do Brasil tenham novas perspectivas e oportunidades de vida. De continuar tirando-os das margens e colocá-los em seu devido lugar, que é no poder. Uma sociedade que ama é uma sociedade que ama ao próximo. E amar ao próximo significa permitir que direitos sejam garantidos, que as pessoas vivam bem, em abundância, com dignidade e soberania. Com autonomia para decidir sobre os seus próprios rumos, e que estes rumos não sejam decididos pelo mercado, mas por nós mesmos, organizados com base em pilares de cooperatividade, solidariedade e, do mais importante, do socialismo. Só o socialismo permite a afirmação do amor e o fim das opressões.

Serra não possui companheiros, possui amigos. Companheiros compartilham o pão, e compartilhar o pão é compartilhar a vida, a vida de todos aqueles que nunca deixaram de sonhar. Dilma tem ótimos companheiros a sua volta.