sábado, 27 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Taciturno


Num meio dia de fim de primavera, tive um sonho, como uma fotografia.
Queria imprimir nessas páginas o que vai no meu peito para que eu não precisasse buscar novamente tudo o que sinto dentro de mim. Porque vivo um constante buscar e um buscar inconstante que às vezes faz sumir a minha própria voz.
Tem momentos que busco o que sou nas fotografias, pois por algum desses caminhos, que não sei se os da terra ou os da mente, perdi o elo fundamental que me fazia saber olhar para tudo o que existe.
Minto para mim ao abdicar da antiga verdade de que tudo é possível.
Talvez dediquei o meu amor a quem não devesse dedicar. Mas é embaçado e não posso ver.
Não.
Vejo, mas não acredito.
O eterno Deus que habita em mim se esconde por trás das voltas da minha cabeça.
Me sinto grave, como convém a um poeta. É porque é um poeta que sopra minha vela agora.
É que na busca do eu, sempre fui alguém que não há em mim.
Queria conversar sobre isso mas para ele não existe nada além das misérias humanas, e eu não saberia.
Tenho chorado constantemente.
Não tenho feito amigos.
Mas agora posso amar alguém que está aqui.
Me sinto mais livre do que nunca, e as paredes continuam se fechando e nesse momento eu fecho os olhos.
O sonho me deu muitas coisas e eu não sou vítima da vida ou do acaso, de nada. As circunstâncias são pequenas demais e fortes demais.
Tempo, tempo, tempo, tempo...
Me perdi.

Vivi, amei e até cri.


por Fernando Pessoa
por um eu-lírico desconhecido
e por
Bárbara Eliodora